26 de jul. de 2011

(Muito frio para) nadar - parte 2

vem pra praia
mas sabe que não é
pra sempre
o que pra você
é só colônia de férias
agora é minha casa
a hora não é certa - pra você
a hora é de buscar
a felicidade
em outras praias

19 de jul. de 2011

Noites de Yo La Tengo

água, pão, queijo quente
o rato ainda está vivo lá fora
quem se importa?
amasso e beijo, beijo, beijo quente aqui dentro

ontem ela falou que se arrependeu
se arrependeu de não ter ficado mais
e eu me arrependi
me arrependi de não insistir

colchão velho e pernilongos
noites ouvindo yo la tengo
baixinho pra não acordar ninguém

- você gosta do meu travesseiro?
um ventilador pra ventilar
dois metros por três

sem janela
às vezes a porta aberta
uma da manhã novamente

a lua do final de agosto
ilumina o quarto
e dormindo como um anjo
eu posso ver
- você

13 de jul. de 2011

11 de jul. de 2011

Uma versão poética de algo que não deu certo

Dessa vez desço a serra para não voltar mais.
Enterro os meus pés na areia e me lavo nessa água preta (que os babacas costumam chamar de petróleo).
Preta desde sempre. Preta desde que nasci.
Tão preta que já encantou muitos Severinos com os seus reflexos.
Luzes de navios que passam indiferentes aos meus pés enterrados
ou ao meu banho.

Mas essa noite a música que vem de lá é diferente.
Como um teclado mal plugado.
Como se o iPod estivesse molhado.
Como se todos os discos que eu toquei pra você no meu quarto estivessem riscados.
A Maré vem. A Maré vai.
É a única música que consegue dar um pouco de paz ao meu coração aflito.

Dessa vez desço a serra para não voltar mais.
E por entre placas, asfalto e algumas folhas e vinhas
eu consigo ver as luzes da ilha sorrindo para mim.
Como mulher traída que celebra o retorno do marido
Louca para se jogar em seus braços
enfiar-lhe a boca, cravar-lhe as unhas.

E tudo passa tão depressa.

Da janela eu já vejo
containers, caminhões e armazéns,
estou a quilometros da sua casa
mas o seu cheiro continua impregnado em meus dedos.
Como algo bom que nunca vai.
Como o sal na nossa pele, depois de um dia no mar.

E assim você me deixou, sem lugar para ir, exceto para casa.

5 de jul. de 2011

Cidade vertical

Não tem terremoto. São só dois pedaços de concreto entrando em choque.
Levantando poeira, levantando a cidade.

A linha do horizonte quase não existe mais.
Agora são só retas verticais.
Levantando concreto, levantando ferragens.

O pavimento interditado. Já é comum.
Lugar para pisar quase não existe mais.
As calçadas se comem. Como animais.

O campinho de futebol agora é shopping center.
Da janela o que era um grande visual agora é uma torre sem rumo.
Desenhos grotescos que pintam o céu de qualquer maneira.

Habitações não tão mais retilíneas.
Os prédios tremem.
De medo ou por falta de chão?

E se a cidade não tem mais para onde crescer.
Não sei onde eu vou parar.