11 de jul. de 2011

Uma versão poética de algo que não deu certo

Dessa vez desço a serra para não voltar mais.
Enterro os meus pés na areia e me lavo nessa água preta (que os babacas costumam chamar de petróleo).
Preta desde sempre. Preta desde que nasci.
Tão preta que já encantou muitos Severinos com os seus reflexos.
Luzes de navios que passam indiferentes aos meus pés enterrados
ou ao meu banho.

Mas essa noite a música que vem de lá é diferente.
Como um teclado mal plugado.
Como se o iPod estivesse molhado.
Como se todos os discos que eu toquei pra você no meu quarto estivessem riscados.
A Maré vem. A Maré vai.
É a única música que consegue dar um pouco de paz ao meu coração aflito.

Dessa vez desço a serra para não voltar mais.
E por entre placas, asfalto e algumas folhas e vinhas
eu consigo ver as luzes da ilha sorrindo para mim.
Como mulher traída que celebra o retorno do marido
Louca para se jogar em seus braços
enfiar-lhe a boca, cravar-lhe as unhas.

E tudo passa tão depressa.

Da janela eu já vejo
containers, caminhões e armazéns,
estou a quilometros da sua casa
mas o seu cheiro continua impregnado em meus dedos.
Como algo bom que nunca vai.
Como o sal na nossa pele, depois de um dia no mar.

E assim você me deixou, sem lugar para ir, exceto para casa.

Um comentário:

  1. texto bonito, mar e amor são dois assuntos bons de se combinarem. parabéns

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