24 de jan. de 2012

Sorocaba/SP

o táxi
é nave
espacial

pra um lugar
com pouco espaço
pra dançar

onde há ETs
e não cometas

onda há
um rapaz
de xadrez

que espera
a sua
carona

me leva
pra coxinha
do real

pro boliche
do kana

pro sorvete
pro parque

pro amanhecer
de um dia
de trabalho

matar a fome
no supermercado
de tarde

matar a sede
antes de ir
com gatorade

só que
em um lugar
menos roots

17 de jan. de 2012

Santos/SP

Chama pra sair, mas pelo estado que eu estou 
Melhor deixar para amanhã
Ah não! Amanhã já tem jogo do peixe
Só assim pra não ter tempo pra pensar na gente
Já que não há mais "a gente"

trecho da letra de Santos/SP, da banda umnavio


12 de jan. de 2012

Caricatura de um passeio

Numa das voltas do destino
Subimos o Morro do José Menino
A natureza em ribanceira
E nós na via estradeira
Vinha em viés a ventania
O parapente não saía
Satisfazendo nosso desejo
Uma moqueca de abadejo
Que linda vista da baía
Num sábado de sol
Em tua companhia

poema da amiga Jô Rodrigues, que nos deixou essa semana. Publicado em Santos Revisitada, da Estação Catadora (2011), projeto do qual também tive o orgulho de participar.

9 de jan. de 2012

Mathilda negra

esperta

encosta
a bicicleta
na porta

não fala
com nenhum
estranho

natalie portman
negra
aos doze

entra
na loja
e pega
o detergente
o troco
o tchau

para quem leva
para o pai louco
seria lindo

se fosse
para leon
o profissional

5 de jan. de 2012

Blusa branca (suja de areia)

a bola rola

ela corre pra buscar

deixa pra mim
nem digo nada

ela vê que vou chutar

não há nada mais lindo
que ela e essa blusa
branca de frente pro mar
preto
na praia
agora

suja de areia

ela pode alcançar
mas deixa pra mim

devolvo
ganho um sorriso
mesmo com as feridas no pé
andando feito
cavalo manco

3 de jan. de 2012

Nova Zelândia

um sorriso quase perdido
em e-mails e fotos antigas
em imagens à luz do dia
em uma dança do ventre

arrisca uma noite qualquer
a arte de seduzir
no seu cabelo bem preto
naquele vinil colorido

um telefone perdido
e-mail, por sorte, um reply
só pra saber onde você está
na volta de sorocaba
ou na volta do mar

as histórias de você presa
em uma chuva de verão
você falou pra ela
que queria trocar de lugar

um chamado na madrugada
só pra saber se você
ainda vê filmes
e não voltou
pra oceania

1 de jan. de 2012

Noturno da Baixada

foto: Ciro Hamen
De noite a terra
baixa ainda mais
e entre as dunas
deixa ver
um negro transatlântico
traficando
de porto em porto
seu parco contrabando:
vozes, ferramentas
e um óleo pesado e grosso
que empapa o solo
entope os canais
o sono.
Triste cidade litorânea!
meus olhos mal te distinguem
do mar da terra da lama.

poema de Alberto Martins, em Cais