11 de abr. de 2013

Santos


a gente saía de bicicleta
pra jogar um pouco de lixo
nos quintais dos bairros mais ricos
no desespero que é a nossa pequena cidade
um amor de parquinho
um ônibus vazio
um vovô que pensa com a cabeça
da república oligárquica de 1889
numa cidade tão pequena, tudo é identitário
e cada colega de infortúnio é um grande amigo
numa cidade tão pequena
tudo é abortivo
numa cidade tão pequena
bate em retirada
numa cidade tão pequena
você está sempre preso
numa cidade tão pequena
você não tem saída
com os rumores, ele resolveu
que não queria mais viver como um dublinense;
só há morros por todos os lados;
largou a empilhadeira;
quem sabe ele te encontra de noite no gallo.
numa cidade tão pequena
tudo é abortivo
numa cidade tão pequena
bate em retirada
numa cidade tão pequena
você está sempre preso
numa cidade tão pequena
você não tem saída
Foto de Jorge Françozo de Moraes.

9 de abr. de 2013

Volte numa quinta-feira, por favor


tenho certeza que o seu quarto não era feito só
de pornografia barata
para os momentos de solidão

na gaveta imagino
discos do fugazi
e o livro que você não leu
mas não entendi morrer
tão longe de casa
sendo que eu esperava você chegar
comendo uma batata frita no sofá

a mureta do canal, o relógio de sol
as saudosas barracas onde eram os quiosques
e o half-pipe
o que será que você planejou para eles?

depois de tantos verões
invadindo a cidade
não é possível que você os tenha
deixado de lado