7 de nov. de 2012

Metade da minha alma é feita de maresia


Mar, metade da minha alma é feita de maresia
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,
Que há no vasto clamor da maré cheia,
 Que nunca nenhum bem me satisfez.
 E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia
 Mais fortes se levantam outra vez,
 Que após cada queda caminho para a vida,
Por uma nova ilusão entontecida. 
E se vou dizendo aos astros o meu mal
É porque também tu revoltado e teatral
Fazes soar a tua dor pelas alturas.
 E se antes de tudo odeio e fujo
 O que é impuro, profano e sujo,
É só porque as tuas ondas são puras.

poema de Sophia de Mello Breyner Anderson. dica do Coletivo Action


Um comentário: